sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A representação política e o poder simbólico em Bourdieu


Pierre Bourdieu foi um importante sociólogo francês, em seu livro “poder simbólico” ele deixa claro no capitulo VII: o campo político como o lugar das relações de poder os fatores internos e externos que implicam na relação de poder.  Bourdieu pretende compreender os mecanismos que separam os “agentes politicamente ativos” (militantes, por exemplo) dos “agentes passivos” (massa). Para tanto, afirma que “o campo político não é um império”, reforçando a necessidade de observar o contexto em que ocorre o fenômeno observado, integrando o campo político ao social e econômico. A dinâmica do campo político se dá numa tradução-relação entre mandantes (cidadãos comuns) e mandatários (agentes políticos) e suas organizações.

Para Bourdieu toda análise da luta política deve levar em consideração determinantes econômicos e sociais, fatores que estruturam o sistema político, para que não se caia na perspectiva dual de protagonistas políticos ativos e passivos. É interessante observar que Bourdieu constrói tal visão pensando na lei da história, nessa relação conjectural com o sistema capitalista. Entendendo o campo político, ao mesmo tempo como um campo de forças e como campo das lutas. Criando uma análoga relação da lógica do capital com a lógica da relação de poderes presentes no campo político, Bourdieu diz que é a desigualdade da distribuição dos instrumentos políticos de produção de uma representação do mundo social que o relaciona com a lógica capitalista. Agindo a lei da oferta e da procura, uma “livre” concorrência entre os atores sociais, os eleitores-consumidores que devem escolher o “produto político”, mercadorias que assim como na lógica do capital são simbolizadas e afastadas dos consumidores o local de sua produção.
Posteriormente Bourdieu analisa o “monopólio dos profissionais” que tendem a concentrar o capital-político por dominarem os obstáculos morfológicos, levando em consideração do desapossamento econômico da maioria e a concentração do capital político nas mãos de um pequeno grupo. Segundo Bourdieu a percepção política – que é expressão do mundo social – está intimamente ligado ao aos instrumentos que proporcionam ao mesmo tempo essa “di-visão” e do acesso que os diferentes grupos têm a esses instrumentos. Por tanto o campo político é um espaço que o acesso depende do domínio das leis de entrada. Segundo ele as regras que regem o jogo são o estimulo precípuo para que se possa jogar, ou seja, a intenção política só se constrói na relação com um estado do jogo político, observando o universo das técnicas de ação – como no xadrez.
A intenção política encarna-se numa relação – que também é cultural – de costumes presentes nas instituições humanas. Essa legitimação oficial entoada por um discurso não mais subjetivo, mas público, compreendendo a instituição como aquilo já instituído. As formas de atuação política e legítima são monopólios dos profissionais, limitando o funcionamento do campo político. Comportando-se enquanto mercado, o campo político é um dos menos livres que existem. A participação política está sujeita ao constrangimento dos dirigidos, que se entregam ao partido afim de (re) produzir representação por não ter outra escolha. Assim a soberania popular que legitima é limitada pelos mecanismos que tendem a retirar-lhes a posse de qualquer controle sobre o aparelho.
Os que dominam o partido – os chefes parafraseando Michels – têm interesses ligados com a existência e permanência desta instituição, impondo interesses privados como interesses públicos legitimados pelos mandatários. E assim público imiscui-se com o privado. Como no decorrer do texto é explicitado por Bourdieu o habitus político exige uma preparação especial, assim como o habitus religioso. O dizível e o indizível devem ser articulados de maneira coerente para que a ideologia presente possa ter êxito sem revelar os verdadeiros interesses por de traz. A educação política voltada para especialistas desbancam os simples militantes.
Bourdieu caracteriza o político avisado como aquele que domina o sentido objetivo e efeito social das suas tomadas posição, graças ao domínio que ele possui das tomadas de decisão atuais. Segundo ele o que faz com que esta cultura política permaneça inacessível á maioria das pessoas, é sem dúvida a complexidade das relações sociais que constituem o campo político que nele se (re) exprime, muito mais que a complexidade da linguagem subjacente a política. A necessidade dos partidos arrebatarem pessoas pelo processo organização em torno de polos de oposição não esta ligado a ideologias pertencentes em sua origem, mas relacionam-se de acordo com um campo determinado. O campo no seu conjunto é definido como um sistema de desvios diferentes, não há um sentido senão aquele que se relaciona com o meio no qual se da o jogo. É nesse sentido que Bourdieu diz que a oposição entre direita e esquerda se pode manter uma permuta parcial dos papeis entre os que ocupam estas posições.
O poder simbólico imanado do chefe político tem uma legitimação que está a um nível “supralunar”, ou seja, da dominação legal para uma dominação carismática, segundo Weber. Existe a crença a na autoridade política o credere. O homem político cheio da divinização do Kred retira sua força política da confiança que um grupo deposita nele.
A ambiguidade descrita por Bourdieu na luta política refere-se ao combate por ideias que é ao mesmo tempo o combate por poderes, por privilégios, é uma contradição que subsidia todos os empreendimentos políticos ordenados. Há uma concorrência social para fazer com que a mobilização – que necessita da lógica mecânica – preceda a expressão de representação.

O Moderno Príncipe de ANTONIO GRAMSCI




Antônio Gramsci foi um importante teórico marxista e ativista político italiano, nasceu em 1891 na cidade de Ales e morreu em Roma abril de 1937. Gramsci é famoso principalmente pela elaboração do conceito de hegemonia e bloco hegemónico, e também por focar o estudo dos aspectos culturais da sociedade (a chamada superestrutura no marxismo clássico) como elemento a partir do qual se poderia realizar uma ação política e como uma das formas de criar e reproduzir a hegemonia.
Inicialmente Gramsci descreve algumas notas sobre a política de Maquiavel analisando o livro O príncipe. Para Gramsci o livro é mais que uma obra sistemática, mas um livro “vivo” onde se imiscui pela ideologia política e pela ciência política na forma dramática do “mito”. A forma artística no qual os elementos racionais – que são pacionais – incorporam-se no condottiero (condutor) que representa simbolicamente a “vontade coletiva”. O processo de formação uma determinada vontade coletiva, para um determinado fim político. Gramsci categoriza a paixão politica como um método de ação, na medida que de forma fantasiosa cria-se uma pessoa concreta engenhosamente para se fazer convencer. O príncipe de Maquiavel poderia ser analisado como uma ideologia política que está para além de uma fria utopia e do raciocínio doutrinário, mas como a fantasia concreta, que atua sobre uma massa pulverizada para despertar e se organizar. O príncipe não existia, mas se apresentava como uma possibilidade ao povo italiano através ação dramática de forma fantástica dada por Maquiavel.
Maquiavel como um funcionário administrativo que era se confunde com o povo. Segundo Gramsci ele faz-se povo não no sentido genérico, mas no sentido o qual quer ser atingido, a consciência e expressão, no qual ele se sente identificado. Para Gramsci o “mito-príncipe” não pode ser uma pessoa real mais um organismo, um elemento complexo no qual já um reconhecimento da vontade coletiva. O príncipe ao mesmo tempo que é o mito ele cria uma cisão abstrata, ele toma o lugar da consciência, da divindade, segundo Gramsci ele torna-se base de um laicismo moderno de toda a vida e de todas as relações de costume. Segundo ele a inovação fundamental pela filosofia da práxis na ciência da política foi a demonstração de que não existe uma natureza humana fixa e imutável, essa natureza humana agora descrita pós Gramsci é – ala Marx – o conjunto de relações sociais historicamente determinadas, isto é, um fato histórico comprovável dentro de certos limites.
Gramsci adaptou Maquiavel às demandas da ideologia socialista, coletivizando o "Príncipe". Em lugar do condottiere individual que para chegar ao poder utiliza os expedientes mais repugnantes com a consciência tranquila de quem está salvando a pátria, Gramsci coloca uma entidade coletiva: a vanguarda revolucionária. O Partido, em suma, é o novo Príncipe. Ocondottiere da Renascença não tinha apoio senão de si. No Novo Príncipe, a produção da consciência é trabalho de equipe. Em síntese, Gramsci entende que o partido não é um organismo corporativo, mas, sim, um organismo universal, pois a possibilidade de tornar-se classe hegemônica condiciona-se na capacidade da classe operária elaborar, de modo homogêneo e sistemático, uma vontade coletiva nacional-popular, construindo um novo bloco histórico e assumindo o papel de classe dirigente. A construção dessa vontade coletiva é papel prioritário do partido político ou, segundo Gramsci, do moderno príncipe.