Pierre Bourdieu foi um importante sociólogo
francês, em seu livro “poder simbólico” ele deixa claro no capitulo VII: o campo
político como o lugar das relações de poder os fatores internos e
externos que implicam na relação de poder. Bourdieu pretende
compreender os mecanismos que separam os “agentes politicamente ativos” (militantes,
por exemplo) dos “agentes passivos” (massa). Para tanto, afirma que “o campo
político não é um império”, reforçando a necessidade de observar o contexto em
que ocorre o fenômeno observado, integrando o campo político ao social e
econômico. A dinâmica do campo político se dá numa tradução-relação entre
mandantes (cidadãos comuns) e mandatários (agentes políticos) e suas
organizações.
Para Bourdieu toda análise da luta política deve
levar em consideração determinantes econômicos e sociais, fatores que
estruturam o sistema político, para que não se caia na perspectiva dual de
protagonistas políticos ativos e passivos. É interessante observar que Bourdieu
constrói tal visão pensando na lei da história, nessa relação conjectural com o
sistema capitalista. Entendendo o campo político, ao mesmo tempo como um campo
de forças e como campo das lutas. Criando uma análoga relação da lógica do
capital com a lógica da relação de poderes presentes no campo político,
Bourdieu diz que é a desigualdade da distribuição dos instrumentos políticos de
produção de uma representação do mundo social que o relaciona com a lógica
capitalista. Agindo a lei da oferta e da procura, uma “livre” concorrência
entre os atores sociais, os eleitores-consumidores que devem escolher o
“produto político”, mercadorias que assim como na lógica do capital são simbolizadas
e afastadas dos consumidores o local de sua produção.
Posteriormente Bourdieu analisa o “monopólio dos
profissionais” que tendem a concentrar o capital-político por dominarem os
obstáculos morfológicos, levando em consideração do desapossamento econômico da
maioria e a concentração do capital político nas mãos de um pequeno grupo.
Segundo Bourdieu a percepção política – que é expressão do mundo social – está
intimamente ligado ao aos instrumentos que proporcionam ao mesmo tempo essa
“di-visão” e do acesso que os diferentes grupos têm a esses instrumentos. Por
tanto o campo político é um espaço que o acesso depende do domínio das leis de
entrada. Segundo ele as regras que regem o jogo são o estimulo precípuo para
que se possa jogar, ou seja, a intenção política só se constrói na relação com
um estado do jogo político, observando o universo das técnicas de ação – como
no xadrez.
A intenção política encarna-se numa relação – que
também é cultural – de costumes presentes nas instituições humanas. Essa
legitimação oficial entoada por um discurso não mais subjetivo, mas público,
compreendendo a instituição como aquilo já instituído. As formas de atuação
política e legítima são monopólios dos profissionais, limitando o funcionamento
do campo político. Comportando-se enquanto mercado, o campo político é um dos
menos livres que existem. A participação política está sujeita ao
constrangimento dos dirigidos, que se entregam ao partido afim de (re) produzir
representação por não ter outra escolha. Assim a soberania popular que legitima
é limitada pelos mecanismos que tendem a retirar-lhes a posse de qualquer
controle sobre o aparelho.
Os que dominam o partido – os chefes parafraseando
Michels – têm interesses ligados com a existência e permanência desta
instituição, impondo interesses privados como interesses públicos legitimados
pelos mandatários. E assim público imiscui-se com o privado. Como no decorrer
do texto é explicitado por Bourdieu o habitus político exige
uma preparação especial, assim como o habitus religioso. O
dizível e o indizível devem ser articulados de maneira coerente para que a
ideologia presente possa ter êxito sem revelar os verdadeiros interesses por de
traz. A educação política voltada para especialistas desbancam os simples
militantes.
Bourdieu caracteriza o político avisado como aquele
que domina o sentido objetivo e efeito social das suas tomadas posição, graças
ao domínio que ele possui das tomadas de decisão atuais. Segundo ele o que faz
com que esta cultura política permaneça inacessível á maioria das pessoas, é
sem dúvida a complexidade das relações sociais que constituem o campo político
que nele se (re) exprime, muito mais que a complexidade da linguagem subjacente
a política. A necessidade dos partidos arrebatarem pessoas pelo processo
organização em torno de polos de oposição não esta ligado a ideologias
pertencentes em sua origem, mas relacionam-se de acordo com um campo
determinado. O campo no seu conjunto é definido como um sistema de desvios
diferentes, não há um sentido senão aquele que se relaciona com o meio no qual
se da o jogo. É nesse sentido que Bourdieu diz que a oposição entre direita e
esquerda se pode manter uma permuta parcial dos papeis entre os que ocupam
estas posições.
O poder simbólico imanado do chefe político tem uma
legitimação que está a um nível “supralunar”, ou seja, da dominação legal para
uma dominação carismática, segundo Weber. Existe a crença a na autoridade
política o credere. O homem político cheio da divinização do Kred retira
sua força política da confiança que um grupo deposita nele.
A ambiguidade descrita por Bourdieu na luta política
refere-se ao combate por ideias que é ao mesmo tempo o combate por poderes, por
privilégios, é uma contradição que subsidia todos os empreendimentos políticos
ordenados. Há uma concorrência social para fazer com que a mobilização – que
necessita da lógica mecânica – preceda a expressão de representação.