terça-feira, 22 de maio de 2012

Pensando Weber e Bobbio


      Estive lembrando do pensamento de dois dos meus autores favoritos, Weber e Bobbio, então aproveitei para deixar aqui algumas dessas lembranças sobre algumas obras destes grandes cientistas sociais.
        Os conceitos de dominação e poder constituem elementos importantes dentro da sociologia weberiana. Através da análise da obra de Weber podemos extrair que, o Estado e os governantes detêm a capacidade de dominar as sociedades porque são reconhecidos como legítimos pelos indivíduos que formam estas sociedades. Uma vez que, a sociedade reconhece essas instâncias como sendo detentoras legítimas do poder, passam a obedecer às determinações que lhes são impostas. Todavia, é importante atentar para o fato que um indivíduo não atribui esta legitimidade a estas instâncias necessariamente por estabelecer com ela certa relação de empatia, ou seja, uma pessoa pode não gostar do prefeito eleito para administrar sua cidade, porém, o reconhece como sendo a figura legítima para exercer esta função.
                Este caráter de legitimidade atribuída a essas instâncias permitem que sua dominação possa estender-se por determinado tempo, fato este que nos leva a refletir que existam diferentes modos de manifestação dessa dominação, como por exemplo, a dominação exercida por Hitler durante o regime nazista na Alemanha, certamente difere da dominação praticada por coronéis políticos dos interiores do Brasil.
                Segundo palavras do autor “poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda a resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade”. A dominação, por sua vez, é definida como “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas dentro de determinado grupo de pessoas”. O próprio Weber expõe em uma de suas obras que podem ser encontrados três tipos puros de dominação, essas podem até combinassem entre si, são elas:
·         Dominação tradicional caracterizada pelo respeito aos costumes e regras enraizadas na sociedade com o passar do tempo. Este tipo de dominação geralmente ocorre em virtude da crença na santidade das ordenações que existem há muito tempo. Geralmente também os instrumentos de poder são da propriedade do dominante, não havendo diferenciação clara entre os bens públicos e o patrimônio do soberano.
·         Dominação carismática ocorre em virtude da devoção efetiva à pessoa do senhor e dos seus dotes sobrenaturais, seu carisma e, particularmente: a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória.
·         Dominação legal esta sustentada em torna da idéia de direito, ou seja, no embasamento da racionalidade e da técnica de administrar. É o tipo de dominação presente acredito que em todas as sociedades modernas, onde a racionalidade e a justiça coexistem. Neste tipo de dominação sobressai a idéia de um estatuto que deverá ser obedecido por chefes e funcionários.
Nas palavras de Weber ”o Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território”.
Weber ao discutir a formação do Estado Racional moderno defende a idéia da racionalização da administração estatal, nesse sentido o processo de desenvolvimento do Estado moderno passaria por todo um processo de sistematização de práticas político-administrativa, efetivando assim a legitimidade de sua dominação sobre a sociedade e, a partir daí sendo reconhecido como detentor único do poder de coação sobre os indivíduos de uma sociedade.
Dessa maneira, podemos compreender a inclinação de Weber na defesa de um corpo administrativo, do Estado, composto por operadores do direito, no sentido de atribuir a estes uma maior capacidade de sistematização e produção adequada das atividades do Estado. O desenvolvimento capitalista moderno esta ligado, por sua vez, a esse desenvolvimento e aplicação de um direito racional estatuído, que passa por uma série de regulamentos, na óptica weberiana, racionalmente concebidos.
 Em sua reflexão sobre “Marx e o Estado” Bobbio chama atenção para o pouco                  aprofundamento sobre a questão das Instituições na “teoria política de Marx. Segundo Bobbio, a excessiva preocupação dos clássicos marxista em tentar demonstrar a natureza de classes do Estado e, conseqüentemente sua preocupação unicamente direcionada para as lutas de classes dentro deste círculo social fez com que estas discussões carecessem de descrições mais objetivas de como se daria esta dominação, sua forma, origem e até seu caráter de legitimidade. Sobre esses aspectos as teorias marxistas submeteriam de modo generalizante toda e qualquer forma de Estado e de governo como sendo um aparelho de dominação das “classes dominantes”, economicamente, suponho.
           Analisando a obra de Bobbio percebemos sua crítica as contradições existentes no interior da teoria marxista, sua falta de clareza e objetividade, sobretudo a ausência de uma teoria sistemática sobre o Estado socialista que Marx propunha, ou seja, como se daria a formação e a manutenção deste estado de “ditadura do proletariado”, qual forma de Estado e governo constituir-se-ia esse novo Estado socialista.
Bobbio coloca de maneira bastante clara que a obra de Marx não consiste em uma teoria sobre o Estado, mas sim contra o Estado. Não existiria na realidade uma Teoria Geral do Estado de Marx, muito menos uma teoria do estado socialista. Esta negação ao Estado e a política por parte de Marx certamente esta relacionada à sua idéia de que toda e qualquer expressão da política e do Estado encerrariam na dominação de uma classe por outra.             Dessa forma, Marx defendia que uma forma de Estado prejudicial à sociedade não deveria ser substituída por outra que não recaísse no mesmo mal, pois toda forma de Estado estaria fadada a esta negação social, assim o que deveria ocorrer era a extinção de toda a forma de governo político.
     Outra passagem da crítica de Bobbio esta relacionada à idéia de “ditadura do proletariado” que seria uma espécie de fase de transição do “Estado mal” para o Estado sem classes defendido por Marx e seus seguidores. Para Bobbio é principalmente nesta fase que se evidenciam as contradições e as fraquezas da suposta teoria marxista, segundo Bobbio esta ditadura do proletariado representa a idéia mais irreal e subjetiva de toda teoria de Marx sobre o assunto. Nas palavras de Bobbio, esta passagem da teoria de Marx “não é suficiente para constituir uma teoria do exercício do poder político”. Para ele, não podemos, num mundo complexo como o que vivemos contentarmo-nos com “fórmulas de efeito” como “democracia direta” ou “autogoverno dos produtores”.
Considerando os elementos aqui apresentados segundo a sugestiva e esclarecedora obra de Bobbio podemos fazer um paralelo sobre a questão da sistemática e da objetividade existentes nos trabalhos destes dois autores discutidos, onde claramente os elementos que formam a reflexão de Bobbio sobre “Marx e o Estado” apresentam-se com um teor de objetividade e de argumentação incomparavelmente superior em relação aos elementos integrantes da obra de Marx. Esta opinião, todavia, não pretende desmerecer a importância das clássicas obras marxistas que permanecem atuais e com significativa relevância em diversas áreas do campo social, a exemplo da exploração do trabalho, a mercantilização da educação e da saúde e tantos outros problemas sociais presentes nas sociedades capitalistas modernas.   Contudo, no que se trata da concepção marxista sobre o Estado, suas possíveis formas, os sistemas de governo, as instituições que o compõem, e a sistemática das relações políticas administrativas dentro do aparelho estatal, estas concepções sim, me parecem irreais para o plano das complexas relações hoje estabelecidas entre as diversas organizações que, se por um lado necessitam de reforma por outro, jamais poderão ser substituídas por nada.  

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